A certa sombra
Exposição individual no Instituto Ling (Porto Alegre – Brasil), com curadoria de Paulo Miyada.
“Vivemos em constante rotação, atraídos por uma força proporcional à massa e ao tamanho desta esfera que chamamos Terra. Não se trata exatamente de uma esfera, pois suas calotas são achatadas, mas a chamamos assim por aproximação geométrica e conveniência de representação.
É na aparentemente inofensiva combinação de aproximação geométrica e conveniência de representação que Marina Camargo funda sua prática artística. Grande parte de suas obras recentes mergulham na margem de erro das convenções cartográficas que registram, perpetuam e expandem concepções hegemônicas do território. Muitas vezes esquecemos que todo mapa resulta de uma operação de projeção e opera como uma ferramenta de controle (cognitivo, simbólico, técnico ou, efetivamente, bélico). Marina nos ajuda a retomar o estranhamento e a dúvida, levando os mapas a se encontrarem com outra forma de projeção: a sombra.
Resultante do bloqueio de raios de luz por corpos opacos, a sombra é um indício de tamanho e forma das coisas e das superfícies, podendo tanto revelar dimensões difíceis de mensurar, quanto conduzir a ambiguidades e equívocos. Um eclipse, por exemplo, comprova posições, distâncias e tamanhos de corpos celestes, mas também oculta a fonte da luz. É instintivo querer evitar a sombra, retardar o eclipse, perder as descobertas dele decorrentes e sonhar com a correção absoluta (e inatingível) de mapas sem distorções e arbitrariedades. O que Marina faz é resistir a esse instinto, dando um passo atrás na sombra, alcançando a antombra, de onde há distância suficiente para enxergar o halo de luz por trás do corpo opaco que provoca o eclipse. Ficar com o mapa, torná-lo sombra, deixar que amoleça, manche, dissolva, cante.
O que hora vemos nesta exposição é um novo passo na jornada de Marina Camargo, que começa a apalpar os cacos dessa cartografia-sombra amolecida e dobrá-la como um origami, uma fábula, um bicho.”
Paulo Miyada
Lista de obras expostas:
• Geografias desdobradas – Panorama (2023)
• Esboço Geográfico: Sertão (2023)
• Farol (2023)
• Detecção de Latitudes e Longitudes (2021)
• Distúrbios (2020-2021)
• Mapa-Mole: Espectro (2022)
• América Sombra-Luz I (2023)
• América Sombra-Luz II (2023)
• África Rosa (2023)
• América Expandida (2023)
• Fluxos: Atlas Antiquus (2022) e Fluxos: Taschen-Atlas (2023)
• Re-Pangeia (2019-2023)
• Continente Dobrado (América do Sul) (2019)
• Songlines (2019-2021)
• Performance Songlines, com Marcelo Cabral (2023)
A certa sombra
Exposição individual no Instituto Ling de 1 de julho a 23 de setembro de 2023
Curador: Paulo Miyada
Produção executiva: Laura Cogo
Programa Educativo: Gisele Marteganha
Montagem: Paulo Mog e Klaus Kellerman
Identidade Visual: Adriana Tazima