Shifting: displaced
De 29 de maio a 29 de agosto de 2021.
Exposição organizada por Interloper.
Registros de Tiffany Danielle Elliott.
Shifting: displaced *
Marina Camargo (2021)
Os deslocamentos através dos espaços reconfiguram os mapas. Os percursos mapeiam o espaço entre dois lugares, traçam mapas invisíveis formados por fluxos, oceanos, territórios, fronteiras.
Não há um caminho aberto para circulação de todos. As mesmas linhas que tornam visíveis os movimentos migratórios desenham as linhas de fronteiras que dividem os países e interrompem o fluxo.
Surge então um mapa fragmentado, onde os mares são zonas de passagem e aproximação entre continentes, onde as fronteiras são abstrações geométricas que dividem espaços contínuos, onde vemos um mapa de cidade ser transformado a despeito da vida que se organiza de modo espontâneo nas calçadas e ruas dos bairros.
Mapa-mole: fluxos (2021) é uma instalação feita a partir de desenhos recortados em couro sintético. Cada uma das peças mostra o espaço entre dois continentes: América do Sul e África; África e América do Norte; América do Norte e América do Sul. Embora a representação da geografia dos continentes seja visível, são as tiras que os ligam que ocupam o espaço de exposição.
Em Songlines (2019-2021), as fronteiras políticas tornam-se representações abstratas. Os desenhos das linhas de fronteira de cada continente são reordenados numa sequência (como um caderno de partituras musicais) e, depois, as fronteiras de cada continente são transformadas em música. Uma série de traduções acontece: as fronteiras políticas são transformadas em desenhos, os desenhos transformados em música. Neste processo, as fronteiras são convertidas em algo imaterial – essencialmente o oposto da natureza das fronteiras.
Cidade planejada 4 (Seattle) (2021) faz parte de uma série de vídeos na qual uma determinada área do mapa da cidade é reproduzida e depois gradualmente transformada em outro mapa. Cada vez que Cidade planejada é exibido, um novo vídeo é feito com base na cidade onde ele é mostrado.
O ponto de partida de Cidade projetada 4 (Seattle) é representação dos bairros de Adams e parte de West Woodlands, bairro que recentemente sofreram com alto registro de ações de despejos (a escolha desta área da cidade foi baseada em dados municipais registado em 2019).
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Os deslocamentos físicos, geográficos e urbanos fazem parte de uma narrativa de espaços habitados, de espaços percorridos, provocando alterações profundas no modo de pensar a geopolítica, uma alteração no sentido de pertencimento a um lugar específico, e na possibilidade de construir uma heimat do outro lado da fronteira.
“Shifting: displaced” fala desses espaços intermediários, da distância de um oceano, da imaterialidade das divisões políticas. A partir de uma posição conceitual, onde não há um território dominante, mas movimentos de diversos espaços e deslocamentos, começo a pensar nos mapas dos mundos em que vivemos e dos mundos que nos habitam.
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* O título da exposição “Shifting: displaced” joga com os sentidos possíveis da tradução da palavra deslocamento para o inglês.
“Displaced” significa deslocado, mas também tem a conotação de desalojado, desabrigado, pode ser usado para falar da condição de alguém que foi expulso, de alguém desterrado. “Shifting” refere-se do mesmo modo à noção de deslocamento, mas fala de algo mais abstrato, como uma mudança entre funções, movimento de um lugar a outro, mudança de paradigma, de direção, etc. Ambas as palavras que formam o título da exposição referem-se a noções de deslocamento, construindo assim um contexto no qual os trabalhos dialogam.