Seria a paisagem urbana um símbolo inconteste de ordem e de verdade, relativos à confiança extrema que depositamos no sentido da visão, e na sociedade enquanto forma de organização coletiva? Não haveria, por trás disso, infinitos universos possíveis, recalcados ou latentes, passíveis de serem entrevistos por uma perturbação qualquer, mesmo que arbitrária, dessa ordem visível? Partindo de indagações como essas, Andrei Thomaz, Daniel Escobar e Marina Camargo realizam distintas formas de mapeamento das cidades – de sua forma e de seu imaginário –, produzindo trabalhos que não reproduzem os lugares reais, mas “inventam” novos lugares. Abandonando a ideia de obra como “objeto”, os jovens artistas trabalham com teias de informação, na esteira de conceitos como o non-site, criado nos anos 1960 por Robert Smithson.

Assim, manipulando através de diferentes mídias e suportes um conjunto de elementos conhecidos da vivência urbana (mapas, outdoors, guias turísticos, postais, informações de GPS, códigos de barras), os artistas embaralham essa teia complexa e banal de informações, aludindo a uma espécie de ordem oculta das cidades, frágil e desejante. Sua poética se constrói na fenda aberta entre realidade e representação – uma falsa linha do horizonte, vibrando como um halo mágico entre céu e terra? –, o que quer dizer também, em última análise, na dialética entre paisagem e desenho, universalismo e particularidade.

Guilherme Wisnik

Lugares/Representações

Exposição coletiva de Marina Camargo, Daniel Escobar e Andrei Thomaz

Acompanhamento crítico: Guilherme Wisnik

Textos: Gabriel Menotti e Guilherme Wisnik

Entrevistas: Eduardo Veras

Projeto Gráfico: Vitor Cesar

THOMAZ, A.; ESCOBAR, D.; CAMARGO, M. Lugares/Representações. Porto Alegre: [s.ed.], 2011. 96p.

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