Mapa-mole (Frações de espaço)

Em Mapa-mole (Frações do espaço), desenhos de continentes recortados em material flexível são dispostos de forma linear: suspensos lado a lado em uma ordem geométrica que se distancia da representação usada nos mapas-múndi. Mapa-mole (Frações do espaço) refere-se ao espaço geográfico como um processo que está em constante transformação.

A prática multidisciplinar de Marina Camargo desestabiliza a relação entre o mundo físico e os meios pelos quais ele é representado. Nos trabalhos recentes da artista brasileira, isso se manifesta em desenhos, instalações, esculturas e vídeos que ampliam as possibilidades de criação de mapas.

Esses experimentos incluem o uso de materiais flexíveis ou impermanentes para produzir mapas que questionam as convenções da cartografia. Na instalação Mapa-mole (Frações de Espaço) (2020), por exemplo, continentes de borracha recortados são suspensos na parede como peles de animais descarnados. As dobras e os vincos imprevisíveis dessas massas de terra caídas podem parecer questionar não apenas a fixidez das fronteiras, mas a permanência até mesmo das formações geológicas mais fundamentais.

Destacando a diferença entre o signo e o que é significado, os mapas moles e mutáveis de Camargo iluminam a extensão em que a cartografia é um ato de tradução que molda nossa compreensão do mundo em que vivemos. [1]

A 14º Bienal de Shanghai está dividida em 9 partes (ou 9 palácios), todas elas pensadas como desdobramentos ou aprofundamentos acerca do tema Cosmos Cinema. “Distância no espaço” (Distance within the space) e “Mapa-mole (frações de espaço)” fazem parte da chamada “Of time and space”, seção da exposição na qual representações de espaço e tempo são re-imaginadas a partir da obra de 6 artistas.

 

O espaço é socialmente produzido, experimentado e compreendido. Nossos mapas expressam preconceitos ideológicos, filosóficos e psicológicos. A visão de cima dos mapas territoriais pressupõe uma perspectiva divina e atemporal. Mas os conceitos de acima e abaixo não têm sentido no mapeamento do cosmos, onde o tempo é inseparável do espaço. (…)

Assim como existem tantos céus noturnos quanto posições a partir das quais as estrelas podem ser observadas, vários dos trabalhos aqui apresentados propõem alternativas à lógica colonial da cartografia como instrumento de dominação. Reconhecendo que todo mapa é condicionado pelo espaço e pelo tempo de sua criação, eles oferecem alternativas amplas, flexíveis e contingentes. (…) [2]

 

14th Shanghai Biennale

Curador-chefe: Anton Vidokle

Curadores: Xiang Zairong, Hallie Ayres, Lukas Brasiskis

Editor de publicações: Ben Eastham

Power Station of Art, Xangai (China)

De novembro de 2023 a março de 2024

[1] Texto de Ben Eastham para o catálogo da exposição.

[2] Trecho de texto introdutório à exposição.

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